São muitas as teorias sobre a ansiedade. Freeman (2014) a define como uma emoção. Ele discorre que o pensamento psicológico atual gira em torno da ideia de que as emoções são sensações intensas e conscientes desencadeadas por nossa avaliação de determinado acontecimento ou situação. Essa avaliação, que pode ser consciente ou inconsciente, determina que emoção sentimos.
Por exemplo, se percebemos que tivemos sucesso, ficamos alegres. Se detectamos que fomos ofendidos ou contrariados, sentimos raiva. E, se acreditamos que estamos em perigo, sentimos medo (FREEMAN, 2014).
A sensação de ansiedade ocorre quando a pessoa começa a pensar que coisas ruins possam se repetir ou acontecer em sua vida e/ou na vida de outras pessoas (POSSATTO, 2006). Em casos extremos, a ansiedade nos ajuda a evitar situações que oferecem risco à vida (HOFMANN, 2022).
A ansiedade faz referência com a resposta de enfrentamento ou de fuga do mecanismo de preservação da vida (POSSATTO, 2006). Em cenários menos extremos, a ansiedade nos ajuda a nos prepararmos para uma ameaça a algo com o qual nos importamos. Por exemplo, ela pode nos encorajar a nos preparar com antecedência para uma apresentação (HOFMANN, 2022).
Como a ansiedade tem uma função muito importante, nosso objetivo não é eliminá-la completamente. O que almejamos é ser capazes de distinguir entre quando a ansiedade está nos ajudando e quando está nos prejudicando (HOFMANN, 2022). A ansiedade passa a ser negativa e prejudicial quando funciona como um mecanismo neurótico (POSSATTO, 2006).
Possatto (2006) escreve que o planejamento pode causar ansiedade negativa quando há cobranças de perfeição, medo de fracassar, de "ter de" se dar garantias de sucesso, ou ainda uma cobrança para agir depressa. É como se a pessoa estivesse sendo empurrada a andar quando não quer ou não consegue.
Podemos dizer, conforme Possatto (2006), que a ansiedade é um estado de alerta em nossa mente que alimenta o planejamento de nossas ações buscando saídas, alternativas e ensaiando ações de enfrentamento ou de fuga.
É o preparo do corpo para fazer algo que o cérebro julga que precisa ser feito, mas que nem sempre o é. O corpo se prepara para enfrentar a situação, mas a situação pode não estar acontecendo, pode se tratar de uma fantasia. Todo o preparo do corpo nesse caso para reagir gera uma energia que não é utilizada concretamente. E o resultado de todo esse esforço é uma ansiedade negativa (Possatto, 2006).
Hofmann (2022) elenca que, para classificar a intensidade da ansiedade, a Terapia Cognitivo-Comportamental se utiliza de uma escala de unidades subjetivas de desconforto. Abaixo, imagem referente a essa escala do livro de Hofmann.
Cada um de nós tem uma história única. Nossos corpos e mentes respondem de forma singular a uma mesma situação. Há algumas estratégias que funcionam muito bem para algumas pessoas e outras estratégias que funcionam bem para outras pessoas. É por isso que o método "tamanho único" da maioria dos livros de autoajuda geralmente causa decepção. O terapeuta e o cliente buscam encontrar a estratégia que se ajuste para resolver o problema (HOFMANN, 2022).
Alguns transtornos de ansiedade
Transtorno de ansiedade de separação
Como consequência do temor de que algo possa acontecer a si mesmas ou ao seus cuidadores, as crianças ou adolescentes podem demonstrar um comportamento de apego excessivo a seus cuidadores, buscando não permitir o afastamento destes ou telefonando repetidamente para eles a fim de tranquilizar-se a respeito de suas fantasias (CASTILLO et al., 2000).
De acordo com Castillo et al. (2000), o transtorno de ansiedade de separação é caracterizado por ansiedade excessiva em relação ao afastamento dos cuidadores, não adequada ao nível de desenvolvimento, que persiste por, no mínimo, quatro semanas, causando sofrimento intenso e prejuízos significativos em diferentes áreas da vida da criança ou adolescente.
Recusa escolar secundária também é comum nesses pacientes. A criança deseja frequentar a escola, demonstra boa adaptação prévia, mas apresenta intenso sofrimento quando necessita afastar-se de casa (CASTILLO et al., 2000).
Transtorno de ansiedade generalizada (TAG)
As características essenciais do transtorno de ansiedade generalizada são ansiedade e preocupação excessivas (expectativa apreensiva) acerca de diversos eventos ou atividades. A intensidade, duração ou frequência da ansiedade e preocupação é desproporcional à probabilidade real ou ao impacto do evento antecipado (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014).
Várias características distinguem o transtorno de ansiedade generalizada da ansiedade não patológica. Primeiro, as preocupações associadas ao transtorno de ansiedade generalizada são excessivas e geralmente interferem de forma significativa no funcionamento psicossocial, enquanto as preocupações da vida diária não são excessivas e são percebidas como mais manejáveis, podendo ser adiadas quando surgem questões mais prementes (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014).
Segundo, as preocupações associadas ao transtorno de ansiedade generalizada são mais disseminadas, intensas e angustiantes; têm maior duração; e frequentemente ocorrem sem precipitantes. Quanto maior a variação das circunstâncias de vida sobre as quais a pessoa se preocupa (p. ex., finanças, segurança dos filhos, desempenho no trabalho), mais provavelmente seus sintomas satisfazem os critérios para transtorno de ansiedade generalizada (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014).
Terceiro, as preocupações diárias são muito menos prováveis de ser acompanhadas por sintomas físicos (p. ex., inquietação ou sensação de estar com os nervos à flor da pele). Os indivíduos com transtorno de ansiedade generalizada relatam sofrimento subjetivo devido à preocupação constante e prejuízo relacionado ao funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes de sua vida (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014).
Fobia específica
Fobias específicas são definidas pela presença de medo excessivo e persistente relacionado a um determinado objeto ou situação, que não seja referente a uma situação de exposição pública ou de medo de ter um ataque de pânico (CASTILLO et al., 2000). Se uma pessoa teme tempestades e voar, por exemplo, então seriam dados dois diagnósticos: fobia específica, ambiente natural e fobia específica, situacional (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014).
Fobia Social
Na fobia social, há o medo persistente e intenso de situações onde a pessoa julga estar exposta à avaliação de outros, ou se comportar de maneira humilhante ou vergonhosa (CASTILLO et al., 2000).
Os indivíduos com transtorno de ansiedade social do tipo Somente Desempenho têm preocupações com desempenho que são geralmente mais prejudiciais em sua vida profissional (p. ex., músicos, dançarinos, artistas, atletas) ou em papéis que requerem falar em público (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014).
Os medos de desempenho também podem se manifestar em contextos de trabalho, escola ou acadêmicos nos quais são necessárias apresentações públicas regulares. Os indivíduos com transtorno de ansiedade social Somente Desempenho não temem ou evitam situações sociais que não envolvam o desempenho (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014).
Referências bibliográficas
American Psychiatric Association. (2014). Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5 [Recurso eletrônico]. (5a ed.; M. I. C. Nascimento, Trad.). Porto Alegre, RS: Artmed.
CASTILLO, Ana Regina G. L. et al. Transtornos de ansiedade. Revista Brasileira de Psiquiatria, 22 (2000): 20-23. Disponível em:<http://www.scielo.br/pdf/rbp/v22s2/3791.pdf> Acesso em: 26/05/2022.
FREEMAN, D.; FREEMAN, J. Ansiedade: o que é os principais transtornos e como tratar. Tradução Janaína Marco. 1. ed. Porto Alegre: L&PM, 2014.
HOFMANN, S. G. Lidando com a ansiedade: estratégias de TCC e mindfulness para superar o medo e a preocupação. Tradução: Sandra Maria Mallmann da Rosa. Porto Alegre: Artmed, 2022.
POSSATTO, L. Ansiedade sob controle. 1. ed. São Paulo: Lumen Editorial, 2006.
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