O trabalho de Klein contribuiu para trazer créditos às ideias de Freud sobre a agressividade e a sexualidade infantil, o papel do superego e o complexo de Édipo. No entanto, o trabalho direto com crianças trouxe também novas ideias e permitiu uma descrição detalhada dos estágios iniciais do desenvolvimento, apenas esboçados por Freud. Estas novas ideias acabaram provocando certas divergências de opinião entre os dois (SEGAL, 1987).
Neste post, trarei conceitos importantes da obra da psicanalista austríaca.
Relação Mãe-Bebê
Conforme seus conceitos, Klein enfatizou a importância das primeiras experiências da criança com sua mãe ou cuidador primário na formação da personalidade.
O primeiro objeto de amor e ódio do bebê é a mãe, esse objeto é ao mesmo tempo desejado e odiado com toda intensidade e força características dos anseios arcaicos da criança. Muito no início, esta ama a mãe no momento em que ela satisfaz suas necessidades de alimentação, aliviando seus sentimentos de fome e lhe oferecendo o prazer que obtém quando a boca é estimulada ao mamar o peito (KLEIN, 1921-1945/1996).
Mas, quando o bebê está com fome e seus desejos não são atendidos ou quando sente dor e desconforto físicos, surgem sentimentos de ódio e agressividade, e ele é tomado por impulsos de destruir (KLEIN, 1996).
Conforme Klein (1996), como a mãe foi a primeira a satisfazer nossas necessidades de autopreservação e nossos desejos sensuais, além de nos dar segurança, ela desempenha um papel duradouro na nossa mente, apesar de as várias maneiras coma se dá essa influência e as formas que ela toma nem sempre ficarem claras mais tarde.
Por exemplo, uma mulher pode parecer ter se afastado da mãe, mas ainda buscar inconscientemente alguns traços de sua relação inicial com ela no relacionamento com o marido ou com o homem que ama (KLEIN, 1996).
Fantasia Inconsciente
Klein enfatizou a importância de fantasias inconscientes na vida emocional das crianças e adultos. Ela via essas fantasias como influências poderosas sobre o comportamento humano e a vida emocional.
Discorre (1996) que os impulsos e sentimentos do bebê são acompanhados por um tipo de atividade mental que julga ser a mais primitiva: a construção da fantasia ou, em termos mais coloquiais, o pensamento imaginativo.
Por exemplo, o bebê que deseja o seio da mãe quando não esta lá pode imaginar sua presença, pode imaginar a satisfação que obtém dele. Esse fantasiar primitivo é a forma mais arcaica da capacidade que mais tarde se transforma na atividade mais elaborada da imaginação (KLEIN, 1996).
Conforme Klein (1996), as fantasias arcaicas que acompanham os sentimentos do bebê são dos tipos mais variados. Na supracitada, ele imagina a gratificação que esta ausente. Da mesma maneira, fantasias destrutivas podem acompanhar a frustração e os sentimentos de ódio que esta desperta.
Quando o bebê se sente frustrado no seio, na sua fantasia ele ataca esse seio; mas se está sendo gratificado, ele passa a amá-lo e tem fantasias agradáveis a respeito desse objeto. Nas suas fantasias agressivas, ele deseja morder a mãe e seus seios, além de destruí-la de outras maneiras (KLEIN, 1996).
O “seio bom” reflete a idealização da criança sobre a mãe como sendo amorosa, protetora e capaz de satisfazer todas as suas necessidades. Por outro lado, o “seio mal” reflete a percepção da criança sobre a mãe como sendo ausente, rejeitadora ou incapaz de satisfazer suas necessidades.
De acordo com Klein (1996), o bebê sente como se aquilo que desejou nas suas fantasias realmente tivesse acontecido; ou seja, ele se sente como se realmente tivesse destruído o objeto de seus impulsos destrutivos e continuasse a destruí-lo: isso tem consequências para o desenvolvimento da sua mente.
O bebê encontra apoio contra esses medos em fantasias onipotentes de caráter restaurador: isso também traz consequências importantíssimas para seu desenvolvimento, conforme Klein (1996).
Se nas suas fantasias agressivas o bebê feriu a mãe ao mordê-la e despedaçá-la, ele logo cria fantasias em que está juntando os pedaços novamente, restaurando-a. Isso, porém, não consegue eliminar completamente o medo de ter destruído o objeto que, como já sabemos, o bebê mais ama e do qual mais precisa (KLEIN, 1996).
Klein (1996) diz o seguinte: “em minha opinião, esses conflitos básicos afetam profundamente o desenvolvimento e a força da vida emocional do indivíduo adulto”.
Mecanismos de Defesa
Klein explorou os mecanismos de defesa primitivos que as crianças usam para lidar com ansiedades e conflitos. Isso incluiu a divisão, a introjeção e a projeção, entre outros.
“O seio bom é tomado para dentro e torna-se parte do ego, e o bebê que antes estava dentro da mãe, tem agora a mãe dentro de si” (KLEIN, 1946-1963/1991).
Assim como Freud, Klein reconheceu a importância da transferência (os sentimentos que o paciente projeta no terapeuta) e da contratransferência (os sentimentos do terapeuta em relação ao paciente) no processo terapêutico.
Acreditava-se na época que as crianças não podiam desenvolver transferência para o analista da mesma maneira que os adultos, pois ainda estavam presas a seus objetos originais: a mãe e o pai. Conforme Klein, as crianças rapidamente estabelecem transferência, tanto positiva quanto negativa (SEGAL, 1987).
Ela considera que, desde que se preserve a atitude e o ambiente psicanalíticos, as relações de transferência das crianças não são muito diferentes daquelas dos adultos (SEGAL, 1987).
Posições Paranoide e Depressiva
Conforme Klein (1932/1981), a posição paranoide é o estádio em que predominam os impulsos destrutivos e as angústias persecutórias, e ele se estende desde o nascimento até três, quatro e até cinco meses de idade. Isto torna necessário alterar as datas atribuídas à fase de exacerbação do sadismo, mas não implica numa mudança de ponto de vista no que se refere à estreita interação entre o sadismo e a angústia persecutória em seu ponto culminante.
A posição depressiva, que se segue a esse estádio e está ligada a passos importantes no desenvolvimento do ego, estabelece-se por volta da metade do primeiro ano de vida. Nesta etapa, as fantasias e impulsos sádicos, assim como a angústia persecutória, diminuem de intensidade (KLEIN, 1981).
Objetos Internos e Externos
Os objetos internos são formados a partir das experiências emocionais da criança com os objetos externos e incluem aspectos positivos e negativos. Por exemplo, a mãe amorosa e carinhosa pode ser internalizada como um "objeto interno bom", enquanto a mãe ausente ou rejeitadora pode ser internalizada como um "objeto interno ruim". Os objetos internos são representações mentais dos objetos externos. Eles são construídos na mente da criança através de processos psicológicos, como introjeção e projeção.
Inveja do Seio
“Considero que a inveja é uma expressão sádico-oral e sádico-anal de impulsos destrutivos, em atividade desde o começo da vida, e que tem base constitucional” (KLEIN, 1991). Klein expandiu as teorias freudianas sobre a inveja do pênis, introduzindo o conceito de inveja do seio.
Referências bibliográficas
KLEIN, Melanie. Amor, culpa e reparação e outros trabalhos (1921-1945). Tradução de André Cardoso, Rio de Janeiro: Imago Ed., 1996.
KLEIN, Melanie. Psicanálise da criança (1932). Tradução de Pola Civelli. 3. ed. São Paulo: Mestre Jou. 1981.
KLEIN, Melanie. Inveja e gratidão e outros trabalhos (1946-1963). Tradução de Elias Mallet da Rocha, Liana Pinto Chaves. Rio de Janeiro: Imago, 1991.
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