Tendo-se em vista os obstáculos que de inúmeros lados se deparam a criança, não é de estranhar que as suas respostas nem sempre sejam adequadas. Seus hábitos psíquicos apenas começam a se desenvolver, e a criança, cujo o ajustamento ainda é imaturo e incipiente, logo se vê na necessidade de se orientar para as inexoráveis condições da realidade (ADLER, 1912/1957, p. 47). Três obstáculos serão apontados: rejeição, inferioridade orgânica e superproteção.
Rejeição
“(…) dificuldades podem surgir, quando a afeição normal dos pais para com os filhos não se manifesta em grau conveniente. Sempre que isto sucede, derivam serias consequências para o desenvolvimento da criança” (ADLER, 1912/1957, p. 48).
Torna-se tão insensível que não pode reconhecer o amor, nem o manifestar propriamente, porque seus instintos afetuosos não foram desenvolvidos. Será difícil levar uma criança, que cresceu no seio de uma família que lhe negou as oportunidades para desenvolvimento normal da afeição e da ternura, a manifestar qualquer espécie desse sentimento (ADLER, 1912/1957, p. 48).
Uma criança não desejada e rejeitada nunca conheceu o amor e a cooperação em casa e, portanto, lhe é extremamente difícil desenvolver essas capacidades. Tais crianças não têm confiança em suas habilidades para serem úteis e obterem afeição e estima dos outros. Quando adultos podem se tornar frias e duras (FADIMAN e FRAGER, 1986, p. 79).
Os traços de crianças não-amadas, em sua forma mais desenvolvida, podem ser observados no estudo das biografias de grandes inimigos da humanidade. Neste caso, a única coisa que se destaca é que, quando crianças, foram maltratados. Podem desenvolver, assim, dureza de caráter, ódio excessivo; dificuldade em ver os outros felizes (FADIMAN e FRAGER, 1986, p. 79).
Inferioridade orgânica
Adler (1912/1957, p. 47) discorre que nossa civilização tem uma cultura baseada na saúde e na adequação de órgãos plenamente desenvolvidos. “Crianças que sofrem de doenças ou enfermidades tendem a se tornar fortemente autocentradas. Podem preferir não interagir com outros por um sentimento de inferioridade ou incapacidade de competir com sucesso” (FADIMAN e FRAGER, 1986, p. 79).
“Adler salienta, contudo, que as crianças que superam suas dificuldades tendem a compensar sua fraqueza original além da média e desenvolvem habilidades num grau incomum” (FADIMAN e FRAGER, 1986, p. 79).
Conforme Adler (1912/1961, p. 48), há sempre a possibilidade de que, no decurso do tempo, se estabeleça automaticamente uma compensação, sem que o mal deixe vestígios. Mas isto não se dará se o amargor da deficiência psíquica tiver desenvolvido na criança uma atitude de desespero que a marque por toda a vida. Tal estado de coisas pode se complicar, além disso, por questões econômicas.
Superproteção
Crianças superprotegidas também têm dificuldades em devolver um sentimento de interesse social e cooperação. Falta-lhes confiança em suas próprias habilidades, uma vez que os outros sempre podem ter feito muitas coisas por elas (FADIMAN e FRAGER, 1986, p. 79).
Ao invés de cooperarem, tendem a fazer exigências unilaterais às pessoas. O interesse social é habitualmente mínimo e Adler descobriu que essas crianças em geral nutrem poucos sentimentos genuínos em relação aos pais, os quais podem ser manipulados com facilidade por elas (FADIMAN e FRAGER, 1986, p. 79).
Referências bibliográficas
Adler, Alfred. A Ciência Da Natureza Humana. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1957.
Fadiman, James; Frager, Robert. Teorias da Personalidade. São Paulo: Harbra, 1986.
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