Hans Selye (1907-1982), médico austríaco-canadense, foi o precursor ao tentar encontrar explicações científicas para o estresse. Selye era doutor em bioquímica e sua obra científica é ampla. Escreveu muitos trabalhos importantes na medicina, especialmente sobre endocrinologia (ZIMPEL, 2005, p.12).
A partir de pesquisas com hamsters em laboratório, ele observou que ocorriam reações semelhantes quando os animais eram submetidos a estímulos diferentes (ZIMPEL, 2005, P.12).
Depois Selye passou a estudar esses resultados do experimento. O foco inicial da pesquisa era outro. Inclusive, inicialmente, tais resultados foram estressantes para Selye (FARNÈ, 2003).
Conforme Farnè (2003), em consequência do experimento “malogrado” de Selye, os estudos sobre estresse começaram por volta de 1930. Ele percebeu que poderia ver seus experimentos numa perspetiva completamente diferente.
Selye começou a descrever, em 1926, o que chamou de Síndrome Geral de Adaptação. E, mais tarde, deu o nome de estresse ao fenômeno (síndrome de estresse biológico) (ZIMPEL, 2005, p.12). Em medicina, o termo síndrome indica um conjunto de sintomas associados entre si (FARNÈ, 2003, p. 19).
Depois de pesquisas conduzidas ao longo de sua vida, Selye obteve uma distinção clara dos fenômenos envolvidos: estresse é a condição atípica que permite ao organismo adaptar-se a qualquer solicitação que lhe seja imposta; estressor ou agente estressante é o fator que impulsiona o organismo a adaptar-se (FARNÈ, 2003, p. 20).
Arantes (2002) discorre que a proposta de Selye sobre estresse difundiu-se muito, foi incorporada a vários campos do saber. Desde então, não só a medicina, mas a psicologia, a sociologia e, sobretudo, as ciências que se preocupam com a saúde ambiental e no local de trabalho, com a qualidade de vida em geral, vêm produzindo trabalhos, textos e pesquisas utilizando-se do conceito de estresse.
Esse conceito tem sido amplamente utilizado nos dias atuais, chegando mesmo a tornar-se parte do senso comum. Podemos observar que os meios de comunicação de massa têm veiculado o conceito de forma indiscriminada, o que favorece certa confusão a respeito do verdadeiro significado do estresse (FILGUEIRAS e HIPPERT, 1999).
Uma das boas definições de estresse é apresentada por Lipp (1984, p. 6 apud FILGUEIRAS e HIPPERT, 1999), que, dentro da abordagem Cognitivo-Comportamental, define o estresse como "uma reação psicológica, com componentes emocionais, físicos, mentais e químicos, a determinados estímulos que irritam, amedrontam, excitam e/ou confundem a pessoa".
A autora distingue o nível de estresse excessivo ou insuficiente (distresse), daquele que é necessário para o bom desempenho da pessoa (eustresse) (FILGUEIRAS e HIPPERT, 1999).
Eliminar totalmente o estresse do cotidiano de um indivíduo seria o mesmo que emitir seu atestado de óbito. Fisiologicamente, a ausência total de estresse equivale à morte. O que se deve procurar é reduzir os efeitos danosos do estresse que a sociedade nos proporciona (CARVALHO e SERAFIM, 2002 apud SEGANTIN e MAIA, 2005, p.10).
Na maioria das vezes, os estressores são moderados e a resposta da adaptação orgânica é modesta e de tipo benéfico. O motivo dos graves danos orgânicos observados por Selye em seus experimentos em laboratório com hamsters consiste no fato de ele ter empregado estímulos-estressores em doses maciças e com mudanças repentinas (FARNÈ, 2003, p. 48).
As pessoas precisam buscar uma postura onde o estresse seja um acontecimento positivo e não um empecilho ao desempenho pessoal, à saúde e à felicidade (CARVALHO e SERAFIM, 2002 apud SEGANTIN e MAIA, 2005, p.10). O estresse pode ser negativo, mas, na maioria das vezes, é positivo (FARNÈ, 2003, p. 20).
Na categoria dos estressores possíveis estão incluídas também as experiências consideradas positivas; de fato, elas constituem novidade em relação ao ritmo uniforme da vida cotidiana e, enquanto tais, necessitam de uma adaptação (FARNÈ, 2003, p. 20).
Conforme Conduit (1995 apud FARNÈ, 2003, p. 31), estes são alguns exemplos de estrese por tipo:
Estresse negativo/maléfico (causados por ativação escassa).
Distração, pensamento vago, nenhuma consciência do perigo.
Estresse positivo/benéfico (causados por ativação média).
Eficiência, atenção concentrada na tarefa, decisões equilibradas.
Estresse negativo/maléfico (causados por ativação excessiva).
Ansiedade e raiva, pensamentos catastróficos, decisões apressadas.
Simonton e colaboradores (1987 apud SEGANTIN e MAIA, 2005, p.10) abordam o conceito de estresse relacionando-o a estados emocionais provenientes da reação pessoal dos indivíduos frente a mudanças significativas em suas vidas.
Abaixo, tabelas de estressores apresentadas por Farnè (2003).
Estressores biológicos e físicos:
· Mudanças de estação
· Catástrofes ambientais
· Fatores alimentares e dietéticos
· Fatores microbianos e virais
· Poluição
· Chuva
· Radiações
· Ruído
· Mudanças de temperatura e de pressão atmosférica
· Deslocamento rápido por entre vários fusos horários
· Esforços físicos
· Traumas orgânicos
Subjetivos orgânicos:
· Palpitações
· Boca e garganta secas
· Transpiração abundante
· Necessidade frequente de urinar
· Pouco apetite; outras vezes, em excesso
· Perturbações digestivas e diarreia
· Cefaleia provinda de tensão
· Tensão pré-menstrual ou "ausência" de menstruação
· Dores no pescoço ou na parte baixa das costas
· Tremores, tiques nervosos
Subjetivos psicológicos:
· Ansiedade, inquietude e estado de alerta
· Depressão
· Perda da alegria de viver
· Sensação de cansaço
· Sensação de fraqueza, de vertigem ou de irrealismo
· Incapacidade de atenção e de concentração
· Perturbações do sono
· Consumo de álcool ou de drogas
· Aumento no consumo de tranquilizantes ou de estimulante
Atualmente, urge tomar providências que atenuem o estresse negativo e mantenham-no dentro daqueles limites nos quais é vantajoso e fonte de energia. Mas, para chegar a esse ponto, devemos ter as ideias claras sobre o que seja realmente o estresse e é de importância capital considerar a saúde como harmonia entre psique, corpo e mundo externo (FARNÈ, 2003, p. 12).
Referências bibliográficas
Arantes, M. A. A. C.; Vieira, M. j. F. Estresse: clínica psicanalítica. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2002.
FARNÈ, M. O estresse: às vezes é positivo, às vezes é negativo, mas pode ser transformado em um aliado. Tradução de Mário Zambiazi. São Paulo: Paulinas, Edição Loyola, 2003.
FILGUEIRAS, J. C.; HIPPERT, M. I. S. A polêmica em torno do conceito de estresse. Psicologia: ciência e profissão, v. 19, n. 3, p. 40-51, 1999. Disponível em: https://www.scielo.br/j/pcp/a/KMQrgcHvVCfMF9KjmwPp3yG/?lang=pt Acesso em: 30 jul. 2022.
SEGANTIN, B. G. O.; MAIA, E. M. F. L. Estresse vivenciado pelos profissionais que trabalham na saúde. 2007. Monografia (Conclusão de Curso de Especialização em Saúde da Família). Instituto de Ensino Superior de Londrina – INESUL. Londrina.
ZIMPEL, R. Apresentando a lidar com o estresse. São Leopoldo: Sinodal, 2005.