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Mecanismos de defesa do ego.



Em psicanálise, a expressão mecanismo de defesa é usada para designar diferentes operações psíquicas que visam preservar a integridade, a unidade e o equilíbrio do ego (AFGOUSTIDIS, 1991).


Citarei mecanismos de defesa:


Sublimação


O processo consiste em desviar uma pulsão que não seria aceita socialmente para um objeto ou um fim que a possa satisfazer e tenha valor e aceitação social, como, por exemplo, a realização de uma pintura ou participação numa arte marcial.


Racionalização


É evidenciada pelo uso do argumento lógico, que pode ser convincente ou não para justificar uma ação ou atitude.


Um bom exemplo metafórico está na conhecida fábula da raposa que, não conseguindo ter acesso às apetitosas uvas que cobiçava, racionalizou que elas não interessavam porque “estavam verdes” (ZIMERMAN, 2008).


De forma análoga, a racionalização encontra sólidos apoios nas ideologias constituídas, na moral comum, na doutrina religiosa, nas convicções políticas, nos fundamentos científicos, etc (ZIMERMAN, 2008).


Zimerman não inclui a racionalização na modalidade de mecanismo de defesa.


Negação


Quando, por exemplo, o sujeito diz, por projeção: “você vai pensar agora que eu quero dizer alguma coisa ofensiva, mas na verdade não tenho essa intenção”, compreende-se o enunciado como uma recusa de uma ideia que acaba de imergir (AFGOUSTIDIS, 1991).


Pode-se também bloquear certa percepção referente a uma situação intolerante, negando sua existência para se proteger do sofrimento.


Regressão


O comportamento ou discurso não condiz com a faixa etária por estar infantilizado, isto é, regredido. Uma criança pode regredir a uma fase anterior engatinhando, por exemplo.


Repressão


Esse mecanismo de defesa barra da consciência impulsos indesejáveis, ideias ou sentimentos não aceitos ou desagradáveis.


Introjeção


Um tipo de identificação onde o indivíduo, inconscientemente, procura igualar-se a outro, transferindo para si mesmo vários elementos da personalidade dele.


Projeção


Por exemplo, quando alguém atribui a outro seus próprios desejos e impulsos. Outro exemplo: um indivíduo que tem muito medo de lhe acontecer algo pode superproteger alguém.


Reparação

Almeida (1996, p. 69) escreveu que, em linguagem popular, reparação é a capacidade de pedir desculpas e se arrepender de uma ação socialmente condenável. Também é saber ser grato.


Um exemplo de reparação: sujeito diz algo de uma forma e num tom buscando reparar sua fala anterior que soou de modo desagradável.


Há tipos diferentes de reparação, como, por exemplo, autêntica, maníaca, compulsiva, melancólica, etc.


O conceito de reparação foi introduzido na psicanálise por Melanie Klein. Conforme Mello (2018), a reparação é um construto teórico que tem a ver com os desejos do psiquismo lactente de restaurar o objeto materno interno. Trata-se de um mecanismo mental característico da posição depressiva, quando a psique introjeta o objeto total (mãe), que é amado e odiado simultaneamente (ambivalência).


Nessa relação com o objeto emocionalmente ambivalente, o psiquismo sente-se culpado (culpa pré-moral) pelas fantasias destrutivas dirigidas ao objeto, surgindo, assim, o anseio de reparar o suposto mal que a mente lactente acha que fez. Para Klein, a reparação é o fator primário dos impulsos construtivos e criativos do psiquismo humano, sendo essencial nas posteriores relações amorosas do indivíduo de um modo geral (MELLO, 2018).


“A técnica de inversão de papéis, no psicodrama, é útil para catalisar o processo reparativo” (ALMEIDA, 1996, p. 69).


Fantasia


É um conjunto de ideias ou imagens mentais que procuram resolver os conflitos intrapsíquicos, através da satisfação imaginária dos impulsos. Tensão é aliviada através da fantasia.


Deslocamento


Um impulso ou sentimento é de modo inconsciente deslocado de um objeto original para um objeto substitutivo.


Compensação


É o mecanismo de defesa pelo qual o sujeito, de modo inconsciente, procura compensar uma deficiência imaginária ou real.


Formação reativa


Mecanismo pelo qual desejos, atitudes e sentimentos desenvolvidos pelo ego são a antítese do que é realmente almejado pelos impulsos.


Por exemplo, pais que não são capazes de admitir seu ressentimento em relação aos filhos podem interferir tanto em suas vidas, sob o pretexto de estarem preocupados com seu bem-estar e segurança, que essa superproteção torna-se, na verdade, uma forma de punição (HALL, 1954, p. 93 apud FADIMAN, 1986).


Identificação com agressor


Essa expressão designa um mecanismo de defesa estudado por Sándor Ferenczi e por Anna Freud. Na identificação com o agressor, a vítima não alimenta ódio contra quem lhe fez mal, mas contra si mesma, como se fosse culpa sua o que lhe aconteceu. Assume como seus os desejos do agressor, como no caso de uma menina violada pelo padrasto sente culpa por tê-lo “seduzido” e passa a odiar seus próprios impulsos sexuais, ou considerar que tudo aquilo no fundo não é tão ruim (MEZAN, 2018).


Na síndrome de Estocolmo, o indivíduo passa ver seus algozes não como inimigos cruéis, mas como pessoas que estão do seu lado e no fundo desejam seu bem.


Uma pessoa pode dar reconhecimento a alguém visando a que este não lhe seja agressivo.


Isolamento


Isolamento é um modo de separar as partes da situação provocadoras de ansiedade, do resto da psique. É o ato de dividir a situação de modo a restar pouca ou nenhuma reação emocional ligada ao acontecimento. O isolamento é um mecanismo de defesa somente quando usado para proteger o ego de aceitar aspectos de situações ou relacionamentos dominados pela ansiedade. (FADIMAN, 1986)





Quanto mais defesas são utilizadas, maior o gasto de energia psíquica. Todos nós utilizamos mecanismos de defesa, isso é natural, porém uma pessoa pode estar utilizando os mecanismos de defesa de maneira que prejudica sua vida e/ou a dos outros.


Referências bibliográficas


AFGOUSTIDIS, Dimitri. A Psicanálise. São Paulo: Unimarco/ Loyola, 1991.


ALMEIDA, W. C. Defesas do ego: leitura didática de seus mecanismos. 2. ed. São Paulo: Ágora, 1996


BARBO S., T. C. A psicanálise. 2017. Disponível em: <http://professor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin/arquivosUpload/1258/material/PSICANALISE%20TC%20completo%202017.ppt>. Acesso em: 29/09/2019.


FADIMAN, James; FRAGER, Robert. Teorias da personalidade. Tradução: Odette de Godoy, Camila Pedral Sampaio, Sybil Safdié. São Paulo: HARBRA, 1986.

MELLO, J. C. A alma humana: uma viagem ao interior do psiquismo e a suas raízes. São Paulo: Labrador, 2018.


MEZAN, Renato. Sociedade, cultura, psicanálise. São Paulo: Blucher Karnac, 2018.


ZIMERMAN, David. Vocabulário contemporâneo de psicanálise. Porto Alegre: Armed. 2008.





Imagem de prettysleepy1 por Pixabay


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