Exponho esses conceitos neste post de forma fácil de compreender.
Teoria da atribuição causal
A teoria da atribuição estuda as explicações elaboradas pelos sujeitos referentes aos acontecimentos nos quais eles se percebem direta ou indiretamente implicados, como os sujeitos explicam o que eles ou os outros fazem, porque fazem, como pensam e sentem, se tinham ou não intenção. Trata-se, para a psicologia social, de considerar muito mais o estudar a respeito do sujeito do conhecimento do que o estudar a respeito do sujeito da ação (DOISE, DESCHAMPS e MUGNY, 1978; DESCHAMPS, 1996 apud ROCHA, 2005, p. 110), tal como postulado pela cognição social.
Atribuições disposicionais: avaliam a causa de uma ação como interna de uma pessoa, como a personalidade ou o humor. Essas atribuições explicam o comportamento dizendo algo sobre as qualidades inerentes de uma pessoa. Então, acreditar que uma pessoa está gritando na rua porque é brava é uma atribuição disposicional (RICHARDSON, 2017, p. 144).
Atribuições situacionais: envolvem as causas que são externas à pessoa, como a situação, experiências recentes ou o comportamento de outras pessoas. Se alguém dissesse que uma pessoa está gritando na rua porque brigou com o cônjuge ou porque acabou de receber uma multa de trânsito, seria um exemplo de atribuição situacional (RICHARDSON, 2017, p. 144).
Conforme Richardson (2017), pesquisadores pediram a duas pessoas que encenassem uma discussão e as filmaram com câmeras diferentes. Uma foi colocada no canto da sala, filmando ambas as pessoas. A outra foi colocada logo acima do ombro de uma das pessoas, filmando da perspectiva dessa pessoa. Depois os pesquisadores mostraram as filmagens para um grupo de pessoas e então pediram que explicassem o comportamento que viram. Se estivessem assistindo do ponto de vista do outro lado da sala, as pessoas faziam atribuições disposicionais. Mas, quando assistiam à filmagem do ponto de vista de uma pessoa, elas eram mais propensas a atribuir as ações dessa pessoa à situação.
Pode-se dizer, como preferia o psicólogo gestaltista Fritz Heider (1958, p. 79 apud ROCHA, 2005, p. 110), pioneiro no estudo das atribuições causais, que se trata de uma "psicologia do senso comum" e que através do seu estudo se percebe como o "homem aprende a realidade, como a prevê e como a domina".
Heider (Viena, 1896 – Lawrence, 1988) estava interessado em compreender o funcionamento cognitivo que rege as relações dos homens com o mundo físico e social, partindo do pressuposto que os homens têm necessidade de compreender o mundo que o rodeia e buscam antecipar e prever o que pode acontecer a sua volta (ROCHA, 2005, p. 110).
Abaixo, um vídeo usado num estudo referente ao processo de atribuição. Os participantes foram solicitados a interpretarem-no.
Esse estudo foi realizado por Fritz Heider e Marianne Simmel e publicado no "American Journal of Psychology" em abril de 1944.
Lócus de controle trata-se de um construto que diz respeito a uma tendência relativamente estável das pessoas em explicar a causalidade dos eventos que ocorrem em suas vidas, em termos de um contínuo entre internalidade e externalidade. Internalidade se refere a explicações em que o sujeito acredita que seu desempenho e destino dependem principalmente de si mesmo. Externalidade envolve explicações nas quais a fonte de controle dos eventos está localizada fora do sujeito (COLETA, 1979; 1987 apud BANDEIRA e CESARI QUAGLIA, 2006).
Uma das críticas feitas à teoria da atribuição é sobre a forma que o ser humano é apresentado referente à racionalidade e sistematização. Os críticos dessa teoria dizem que ela tem uma natureza um tanto reducionista por causa da forma que apresenta o ser humano.
Dissonância cognitiva
Festinger foi aluno de Lewin e trabalhou com este como pesquisador.
Para ilustrar a teoria da dissonância cognitiva, vejamos um exemplo usado por Leon Festinger (Nova York, 1919 – Nova York, 1989). Como todo mundo, a pessoa inteligente que fuma quer ser coerente. No entanto, ela tem dois pensamentos que são incoerentes: "Estou fumando" e "As pesquisas indicam que todo ano milhões de pessoas morrem em consequência do fumo" (GOODWIN, 2005).
Presumindo que essa pessoa não é suicida, esses pensamentos criam dissonância, que a pessoa está motivada a reduzir. Isso pode ser feito de várias maneiras: a pessoa pode parar de fumar, questionar a validade das conclusões das pesquisas ou acrescentar outros elementos à situação, dizendo, por exemplo, que um dia todo mundo tem de morrer (GOODWIN, 2005).
Conforme Goodwin (2005), em geral, a teoria da dissonância cognitiva pode ser resumida da seguinte maneira:
• as pessoas estão motivadas a serem coerentes em seus pensamentos, sentimentos e atos;
• sempre que elas pensam duas coisas incompatíveis, há uma dissonância cognitiva, que é um estado de desconforto emocional e cognitivo, e
• sempre que experimentam dissonância cognitiva, as pessoas se motivam a reduzi-la e voltar ao estado de consistência interna.
Outro exemplo simples de dissonância cognitiva: uma pessoa acredita que é decente e bondosa. Ela acredita que as pessoas deveriam cuidar umas das outras e que todo mundo tem direito a dignidade humana básica. Ela passa por um morador de rua que obviamente está com necessidades. Ele pede um lanche ou um real para inteirar e comprar o lanche. Ela o ignora. As ações dessa pessoa não combinam com suas crenças, uma situação que produz dissonância cognitiva nela (RICHARDSON, 2017, p. 101).
Conforme Richardson (2017, p. 101), a redução da dissonância aconteceria pensando que esse morador de rua fez com que essa situação acontecesse consigo mesmo; pensando que talvez ele estivesse bêbado, usado drogas ou estivesse ilegalmente no país; pensando que, se ele infringira a lei ou iria infringi-la, então não merecia ajuda.
Em uma das manifestações religiosas que Festinger estudou, os membros decidiram que Deus havia premiado sua fé decidindo no último momento não destruir o mundo. Essa racionalização foi um meio pelo qual solucionaram dissonância cognitiva (RICHARDSON, 2017, p. 104).
Richardson (2017, p. 101) escreve que as pessoas percorrem um longo caminho para reduzir suas dissonâncias cognitivas. Elas criam novas crenças ou se comportam de novas maneiras para reduzir essa dissonância, mesmo quando esse comportamento parece simplesmente irracional para as outras pessoas.
A ideia de Festinger continua a gerar novas hipóteses e experimentos até hoje. Entretanto, alguns pesquisadores não estão convencidos de sua teoria. Eles acham que a dissonância cognitiva faz algumas suposições estranhas sobre como os processos mentais funcionam (RICHARDSON, 2017, p. 109)
Interacionismo simbólico
Em uma família, o pai pode desempenhar o papel de disciplinador, ao passo que em outra o pai pode ter o papel de protetor (GABLER, 2015, p. 132).
Conforme Gabler (2015, p. 130), interacionismo simbólico é o termo usado para descrever o estudo da interação humana individual em seu contexto social. A palavra simbólico se refere ao fato de que, à medida que as pessoas interagem umas com as outras na sociedade, elas usam uma série de sinais e símbolos com significados particulares naquela sociedade, desde as palavras e os gestos até estilos de se vestir. As pessoas nem sempre concordam sobre o significado de símbolos em particular, as pessoas tentam atingir seus objetivos usando os símbolos em sua vantagem.
O sociólogo Herbert Blumer (1969, p. 5 apud BECK, 1996, p. 48) expôs as seguintes premissas fundamentais do interacionismo simbólico:
1. Os seres humanos agem em relação às coisas à base do significado que elas têm para eles;
2. O significado das "coisas" resulta da interação social que nós, os seres humanos, temos uns com os outros;
3. Significados não são aceitos e usados automaticamente, mas estão sujeitos a um processo de interpretação, isto é, a um processo formador, no qual são usados ou alterados como meios para a orientação ou construção da ação no processo de comunicação da pessoa consigo mesma.
Herbert Mead era um filósofo pragmatista. É observável também a atenção que dedicou às elaborações de Wundt e às concepções behavioristas. Entretanto, é fato inegável que, em suas discussões, via limitações no pragmatismo, elaborações de Wundt e concepções behavioristas (BORGES, CARVALHO e RÊGO). Alguns alegam que Blumer não foi fiel ao compromisso de Mead ao behaviorismo científico e que sua versão de campo não conduziu a formulações de conceitos úteis (FARGANIS, 2016).
Conforme Farganis (2016), a abordagem de Goffman (Mannville, 1922 – Filadélfia, 1982) à sociologia é fortemente influenciada por Mead (South Hadley, 1863 – Chicago, 1931) e por Blumer (St. Louis, 1900 – Danville, 1987), embora ele tenha enveredado por caminhos um pouco diferentes nas várias obras que produziu. Sua obra inicial, A representação do self na vida cotidiana (1959), segue concepção sociológica do ator social funcionando em muitos contextos, que invoca atos diferentes para atender a situações novas e variadas.
“Reciprocamente, vários defensores do interacionismo simbólico negam a filiação de Goffman a esta corrente de pesquisa e criticam, de forma relativamente radical, o interesse de sua perspectiva de análise: os interacionistas simbólicos devolvem claramente a Goffman as críticas que este lhes endereça” (NIZET e RIGAUX, 2016).
Referências bibliográficas
BANDEIRA, M.; CESARI QUAGLIA, M. A. Comportamento assertivo: relações com ansiedade, lócus de controle e auto-estima. In: BANDEIRA, M.; DEL PRESTE, Zilda A. P.; PRESTE, A. D. (orgs.). Estudos sobre habilidades sociais e relacionamento interpessoal. 1. ed. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2006.
BECK, Nestor L. J. Educar para a vida em sociedade: estudos em ciência da educação. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1996.
BORGES, L. O.; CARVALHO, V. D.; RÊGO, D. P. Interacionismo simbólico: origens, pressupostos e contribuições aos estudos em Psicologia Social. Psicol. cienc. prof., Brasília, vol.30 no.1, 2010. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-98932010000100011>. Acesso em: 18 out. 2019.
FARGANIS, James. Leituras em teoria social: da tradição clássica ao pós-modernismo. Tradução: Henrique de Oliveira Guerra. 7. ed. Porto Alegre: AMGH, 2016.
GABLER, Jay. Sociologia para leigos. Rio de Janeiro, RJ: Alta Books, 2015.
GOODWIN, C. James. História da Psicologia Moderna. Tradução de Marta Rosas. 2ª ed. São Paulo: Cultrix, 2005.
NIZET, Jean; RIGAUX, Natalie. A sociologia de Erving Goffman. Tradução de Ana Cristina Arantes Nasser. Petrópolis, RJ: Vozes, 2016.
RICHARDSON, Daniel. Psicologia social para leigos. Tradução Samantha Batista. Rio de Janeiro, RJ: Alta Books, 2017.
ROCHA P., D. P. (org). Ritmos do imaginário. Recife: Ed. Universitária da UFPE, 2005.
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